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Funverde - Sacolas plásticas que se acumulam nas áreas naturais.

BIODEGRADABILIDADE DOS PLÁSTICOS: DESAFIOS E EQUÍVOCOS

Nas últimas décadas têm havido muitos esforços para desenvolver e industrializar os chamados plásticos “biodegradáveis” que podem ter tempos de permanência mais curtos no meio ambiente. Os plásticos oxi-degradáveis ​​comumente chamados de biodegradáveis são, na realidade, plásticos convencionais (exemplo: polietileno – PE, polipropileno – PP e poliftalato de etila – PET) que contém aditivos pro-degradantes, capazes de acelerar o processo de degradação dos plásticos. O principal problema com os plásticos oxi-degradáveis é quando ficam expostos à luz solar e à atmosfera se fragmentam rapidamente e geram enormes quantidades de microplásticos. Essa aceleração do processo de degradação faz com que os itens de plástico aparentemente “desapareçam” em tempo muito menor do que os plásticos convencionais, mas o microplástico gerado é igual aos demais tipos de microplástico. Sob condições ambientais naturais, esses fragmentos de microplástico, resultantes de plásticos oxi-degradáveis, ​​ acumulam-se e continuam a representar uma ameaça aos seres vivos e meio ambiente.

Os plásticos considerados verdadeiramente biodegradáveis (por exemplo, ácido polilático, policaprolactona, polibutirato), apresentam propriedades de biodegradação em função do tipo de polímero com o qual são fabricados e, também, dos aditivos incorporados no produto final utilizado pelo consumidor, e das condições ambientais nas quais o material é colocado no seu ciclo final de uso.

Atualmente, um dos principais desafios que a sociedade enfrenta é a falta de materiais plásticos que mantenham as propriedades originais durante todo o seu tempo de uso, e se decomponham rápida e completamente sob condições ambientais naturais, tornando seus produtos inertes.

Para auxiliar o desenvolvimento de plásticos biodegradáveis, existem métodos padronizados, reconhecidos internacionalmente, que permitem avaliar a biodegradabilidade dos resíduos plásticos oriundos de diferentes fontes naturais (por exemplo, marinha, solos ou águas residuais estações de tratamento).5

Plásticos que se mineralizam totalmente em prazos razoáveis sob as altas temperaturas, em condições controladas dentro de instalações de processamento industrial, podem ser classificados como biodegradável ou compostável com precisão quanto à sua propriedade de degradação. Além disso, a rápida fragmentação que ocorre em um compostor industrial representa baixo risco para a liberação de microplásticos no meio ambiente já que o processo se dá dentro de um sistema fechado e controlado, que deve ser dotado de sistemas que filtrem as dioxinas, furanos, mercúrio e biofenilas, substâncias extremamente nocivas derivadas da incineração do plástico.

No entanto, e atualmente, ainda não há dados estatísticos disponíveis sobre a proporção de bioplásticos que vão para a compostagem e a destinada aos sistemas gerais de processamento de resíduos.

Embora os polímeros e plásticos de composição simples possam ser classificados como biodegradáveis segundo os testes padronizados, observa-se a limitação no sistema de controle e da regulamentação de como os dados referentes aos processos de fabricação, testagem e nomenclatura são utilizados para informar aos compradores e usuários.

Nos últimos anos, o termo “biodegradável”  passou a ser utilizado como atraente chamada de marketing, o que é muito enganoso. Na maioria dos casos, a biodegradabilidade foi testada apenas sob condições muito específicas e não representa uma propriedade genérica do material.

Quando os materiais plásticos são divulgados como biodegradável ou “compostável” sugere  aos consumidores e empresas que eles biodegradam da mesma forma sob diferentes cenários de disposição na ponta final de consumo. No ambiente natural, esses mesmos materiais levarão muito mais tempo para serem totalmente biodegradados (muitas vezes levando décadas, ou centenas de anos), e o processo de degradação poderá resultar em grande quantidade de microplástico potencialmente nocivo.

Recomenda-se, portanto, que seja elaborada uma legislação mais específica para o uso dos termos biodegradável e compostável, que oriente consumidores e empresas sobre essas propriedades e terminologias com mais clareza. As especificações nos rótulos e contratos de divulgação devem auxiliar os compradores na seleção dos materiais apropriados às suas respectivas condições de fim de ciclo de uso. As informações sobre a reciclagem dos plásticos representam um exemplo bem sucedido de tal abordagem onde existe uma legislação clara que regulamenta os sistemas de logística reversa e políticas de aquisição, combinados com a correta rotulagem do produto.

À medida que a demanda por materiais plásticos biodegradáveis ​​por parte dos consumidores está aumentando rapidamente, aumenta a demanda de pesquisas que avaliem seus benefícios ambientais e sociais. No final do século passado, em muitos países, houve uma mudança do uso de sacolas plásticas oxi-degradáveis para sacolas de supermercado reutilizáveis, pois isso foi considerado uma alternativa menos danosa para o meio ambiente do que as sacolas convencionais do tipo polietileno.

Atualmente os plásticos biodegradáveis são difíceis de serem separados do fluxos de resíduos plásticos mistos, que contêm os plásticos recicláveis ​​(PE, PP, PET) e não recicláveis, dificultando a estruturação  de sistemas de reciclagem apropriados para os plásticos biodegradáveis.

Muitos desafios parecem existir tanto para plásticos biodegradáveis ​​como para os plásticos convencionais. Eles, os biodegradáveis, precisam estar contidos em sistemas de gestão de resíduos eficientes para evitar a liberação para ambiente e precisam ser separados de todos os outros resíduos (incluindo plásticos). Importante observar que quando os plásticos biodegradáveis são mineralizados em instalações de compostagem industrial, isso representa a perda de um recurso potencialmente útil que não atende objetivos sociais para uma economia circular.

Uma economia circular visa manter produtos, componentes e materiais em seu mais alto nível de utilidade e valor em todos os momentos da cadeia de transformação, priorizando os benefícios de reciclagem dos resíduos e subprodutos residuais. O desenvolvimento de abordagens de reciclagem para produtos de materiais biodegradáveis será, portanto, necessário para que se tornem materiais de produção de alto volume e valor agregado.

Marlise A. V. Araújo

Tradução livre adaptada do artigo:

Biodegradability of Plastics: Challenges and Misconceptions

Stephan Kubowicz† and Andy M. Booth*

Environ. Sci. Technol. 2017, 51, 12058-12060

*E-mail autor correspondente: andy.booth@sintef.no.

REFERÊNCIAS:

(1) Ojeda, T., Polymers and the Environment. In Polymer Science, Yılmaz, F., Ed.; InTech: Rijeka, 2013; pp 1−34.

(2) Ammala, A.; Bateman, S.; Dean, K.; Petinakis, E.; Sangwan, P.; Wong, S.; Yuan, Q.; Yu, L.; Patrick, C.; Leong, K. H. An overview of degradable and biodegradable polyolefins. Prog. Polym. Sci. 2011, 36 (8), 1015−1049.

(3) Roy, P. K.; Hakkarainen, M.; Varma, I. K.; Albertsson, A.-C. Degradable Polyethylene: Fantasy or Reality. Environ. Sci. Technol. 2011, 45 (10), 4217−4227.

(4) Karlsson, S.; Albertsson, A.-c. Biodegradable polymers and environmental interaction. Polym. Eng. Sci. 1998, 38 (8), 1251−1253.

(5) Müller, R.-J., Biodegradability of Polymers: Regulations and Methods for Testing. In Biopolymers Online; Wiley-VCH Verlag GmbH & Co. KGaA, 2005; Vol. 10, pp 365−374.

(6) Karamanlioglu, M.; Robson, G. D. The influence of biotic and abiotic factors on the rate of degradation of poly(lactic) acid (PLA) coupons buried in compost and soil. Polym. Degrad. Stab. 2013, 98 (10), 2063−2071.

(7) Xanthos, M. Recycling of the #5 Polymer. Science 2012, 337 (6095), 700−702. (8) O’Brine, T.; Thompson, R. C. Degradation of plastic carrier bags in the marine environment. Mar. Pollut. Bull. 2010, 60 (12), 2279− 2283.

(9) Tosin, M.; Weber, M.; Siotto, M.; Lott, C.; Degli Innocenti, F. Laboratory Test Methods to Determine the Degradation of Plastics in Marine Environmental Conditions. Front. Microbiol. 2012, 3, 225.

(10) Andersen, M. S. An introductory note on the environmental economics of the circular economy. Sustainability Science 2007, 2 (1), 133−140.

(11) Verma, R, Vinoda, K. S., Papireddy,M.,  Gowda, A.N.S. Toxic Pollutants from Plastic Waste- A Review, 2016, Procedia Environmental Sciences 35 ( 2016 ) 701 – 708, ScienceDirect .

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